sexta-feira, 29 de julho de 2011

"Vany, sua barriga fez barulho!"

Imagem: http://bit.ly/ojo0S8

Eu devia ter uns 12 ou 13 anos, aquela idade fatídica quando nos tornamos mocinha (ugh!) e qualquer coisa fora do script pode se tornar um problema de proporções gigantescas. Morando ainda em prédio, já no Rio de Janeiro – acho que Copacabana –, não raro subíamos e descíamos de elevador, sempre. O do prédio onde morávamos não era dos maiores. E, particularmente neste dia, deveria ser o menor deles – ou encheu com todos os moradores daquele maldito edifício, porque devia ter um estádio inteiro de gente como se fosse um dos ônibus da CMTC em hora de rush.

Não cabia um pum entre as pessoas. Eis que, lá pelas tantas, eu que sempre sofri de estômago – ponto fraco de cancerianos, segundo dizem os astros – na infância, por refluxo, mais adiante por gastrite, enfim, passei por um aperto. Neste dia, fatídico dia, o estômago resolveu... reclamar de fome. Nem sei se era antes da hora do almoço ou no meio da tarde e, confesso, nem faz diferença. O fato é que o nível de constrangimento, já enorme pela quantidade de gente espremida naquela lata de sardinha triplicou com aquele “nhonhonhorinhó” (alguém sabe reproduzir esta porcaria de som?).

Eu, de cabeça baixa, olhando para o chão, imaginei. “Ai meu Deus, está chegando o andar, vai passar, só mais uns segundinhos. Pode ser qualquer um aqui, ninguém notou que veio de dentro de mim”. Mas, ledo engano, eis que, imediatamente depois de eu ter pensado nisso, quase que tendo lido minha mente, minha querida irmã caçula sapeca, saltitante: “Vany, sua barriga fez barulho!”.

Não, aquilo definitivamente não estava acontecendo. Eu não queria acreditar, mas a altura de seu ouvidinho lindo batia exatamente no meu estômago e, criança ainda, seis anos mais nova que eu, o que ela poderia fazer senão – inocentemente (porque ninguém está pensando que a lindinha, a fofa, seria uma pentelha encravada me sacaneando, né?  Nããããããããããããããããããããããããããããããããããããããããããããããããão!) apontar para o problema, quase que como a perguntar, na sequência o porquê daquilo, esperando uma aula completa de ciência do corpo humano...

Fingindo que não era comigo, mas querendo calá-la de tudo quanto é jeito, eu só levantei dois dedinhos. Afinal, como disse, a quantidade de gente era tanta que tal como na época da ditadura - quando as fontes davam caneladas nos repórteres, imaginei eu, ninguém notaria um beliscãozinho de nada. Resolveria a situação, pelo menos, até o elevador chegar, e eu poder, então dar-lhe aquele mega esporro e resolver a coisa “em família”. Que nada – foi aí que eu realmente não tive dúvidas das intenções da pestinha, quando ela finalizou aquele momento eterno com um: “Aaaaiiiiiiiii, pááááára de me beliscar!  Tá doeeeeendooooooo. 

Um comentário:

José Luiz Sombra disse...

Mais uma vez prendeu minha atenção. Estou virando noveleiro.
JLS