Jornalismo, mídia social e comunicação corporativa convergente, passando por mosaico (mesmo!) e outras artes e causas...
quarta-feira, 23 de setembro de 2009
Casa de ferreiro com espeto de ferro
Hoje, 23 de setembro, 2o. dia da primavera, apesar da chuva que insistentemente caía sobre esta capital sinônimo de garoa, lá fui, bastante animada, prestigiar o que acredito poderia se chamar a última peça da trilogia empresarial que o jornalista pernambucano Manoel Fernandes fincou em sua jornada curricular, depois de anos dedicados ao jornalismo impresso convencional.
Indicado pela Rede Globo, segundo se dizia à boca pequena, ainda nos momentos que anteciparam-se à abertura do evento promovido pela Endeavor para empreendedores, o dono da W3 Geoinformação Editora foi chamado para ministrar não uma palestra sobre estratégias de uso da web para RPs - como eu o conheci, há cerca de um ano - ou sobre a ferramenta queridinha do momento, o Twitter corporativo. Desta vez, ele foi falar única e exclusivamente sobre como fazer negócio na web, sob o tema "Planejamento Estratégico Web 2.0".
Fora a já manjada quebra-de gelo de se dizer oriundo do Rio Grande do Sul com aquele fortíssimo "sutaque du Ricifi", Fernandes demonstrou que vem se aprimorando na técnica de se apresentar para plateias cada vez maiores e mais críticas. Mostrou também que os estudos e vídeos que vem assistindo ao longo dos últimos três anos, não somente lhe valeram conhecimento para ele agora repassar de forma bem estruturada aos outros, como para refazer seu próprio negócio.
De revista impressa a empresa multi-tarefa
Como jornalista, o currículo de Manoel Fernandes fala por si só. Com apenas 40 anos, ele já soma em sua carteira os cargos de colunista da seção Hipertexto de Veja, editor-assistente, chefe de sucursal em Salvador e repórter da publicação por oito anos. Foi também editor de Ciência e Tecnologia da Forbes Brasil durante dois anos, entre 2000 e 2002, tendo depois assumido a editoria de E-Commerce da revista Istoé Dinheiro. Em 2005, passou a comandar a direção de redação da RNT - que, comentou, pensou em adquirir depois.
Em 2006 fundou a revista BITES - a primeira publicação no Brasil dedicada ao mundo dos negócios da web 2.0 - tornando-se sócio da W3 Geoinformação Editora. "Mas, como as coisas mudam, minha empresa também mudou", disse ele, ao apresentar um chart de seu negócio envolvendo ainda uma promotora de eventos, uma unidade de análises e estudos estratégicos de novas mídias e a consultoria, que atende grandes marcas do mundo empresarial brasileiro, como Editora Abril, Cisco, NEC, Yahoo!, Leo Burnett, TV Globo, Editora Record.
Após isso tudo, ainda mencionar que Manoel Fernandes também foi vencedor por duas vezes da seção nacional e regional do Prêmio Esso de Jornalismo na categoria Economia, de três edições do Prêmio Abril de Jornalismo e de prêmios de instituições públicas e privadas é apenas fechar esse quadro com o que ele tem de mérito próprio para estar no palco e ensinar ao auditório lotado como fazer sucesso na Web 2.0.
Três escolhas
Então, depois de repórter e editor, depois publisher e agora empresário de grupo, Manoel Fernandes explicou que pessoas como ele têm três escolhas quando se fala em Web 2.0:
"A primeira é ignorar este novo mundo. O problema apenas residirá no fato de ter sua marca acachapada pelo povo que já está falando sobre seus produtos e simplesmente não se pronunciar a respeito.
Mas, este mesmo empresário pode buscar entender e monitorar este mesmo espaço. Neste caso, ele pelo menos não se finge de morto e ao buscar conhecer o que se fala sobre sua marca e seus produtos, pode estudar as melhores práticas de como lidar com o público.
O recomendável mesmo é interagir com a Web 2.0, porque é onde seu consumidor está. Não se pode ignorar o consumidor, o seu público." Em sua opinião é claro que há muito lixo e material irrelevante no ambiente web, mas a grande sacada da internet e diferencial desta para o ambiente jornalístico e publicitário convencional é que o material produzido nela é indexável - e de permanência constante. "Além de irreversível, a web 2.0 acabou com aquela coisa de "não falem de mim" e sobre o controle que cada empresário tem sobre seu produto, sua marca e sobre a atenção do seu pretenso cliente", complementou. Com o surgimento de novidades tecnológicas a cada dia, as pessoas adquiriram uma forma diferente de lidar com o mundo, o que ele chamou de "atenção parcial continuada".
Para onde ir?
Ainda que não se trate de abarcar a internet, abraçando-a em todos os seus nichos e tipos de mídia, Manoel Fernandes recomendou que os empresários busquem reconhecer em quais nós ou grupos de influência eles se encaixam dentro do universo internético para relacionar-se com seu público, a partir da resposta a uma pergunta que, na verdade, norteia as relações comerciais desde os primórdios, independentemente de plataformas ou mídias disponíveis: "Para onde você quer ir como empresário?" Trocando em miúdos, qual é seu plano de negócios? Ou ainda, sua estratégia, de onde sairão as táticas e as ferramentas...
É quase como a história da galinha e do ovo. O que o publisher de bites, que transformou sua revista impressa num império de três frentes de negócios complementares, ampliando sua capacidade de geração de resultados disse, foi: "A Web 2.0 é uma mídia a mais. Deve sim, ser estudada e trabalhada, mas dentro de uma estratégia de negócios e de Comunicação e Marketing amplamente trabalhada e não apenas porque é modismo."
Jornalismo de indexação
Defensor do jornalismo de resultados, Fernandes sugeriu aos que aderirem à internet lembrarem-se de que se 80% de todo o conteúdo desta é indexado pelo Google, que seus conteúdos sejam produzidos para serem indexados naturalmente pela ferramenta, não importam os links patrocinados que venham a ser integrados como ações táticas adicionais em suas estratégias de negócios. "Sou bastante atacado por isso, mas defendo que se escreva de forma a que se consiga estar entre os primeiros no Google, por que não?"
Sabendo que as palavras-chave "conteúdo gerado pelo consumidor" levam um blog a subir de posições, ele acha mais que normal recomendar isso a seus clientes e que isso não tem nada a ver com pasteurizar o jornalismo, mas de não perder oportunidades que outros, certamente o farão. Para Fernandes, se a internet é um imenso banco de dados e os seres humanos os agentes geradores dos conteúdo, então, basta ser inteligente e gerar o melhor conteúdo para que o banco de dados esteja à disposição do seu cliente e acione o empresário diante do grande oráculo da internet. "É tudo uma questão de associação", resumiu.
Frases que marcaram a apresentação:
1) Se você tem uma empresa de assistência técnica? Eu não montaria um blog para enaltecer o quanto você é bom, mas para dar dicas do que fazer para evitar buscar uma assistência técnica.
2) Os jornalistas e publicitários devem usar as mídias sociais como mais canais para aplicar táticas certas de ações para geração de resultados - o que vai ditar qual será a melhor tática é a estratégia e o mailing dos clientes.
3) Não deixe de anunciar nas mídias tradicionais para abraçar a Web 2.0. Não estamos falando de Web 2.0 x Web 1.0, mas de Web 2.0 + Web 1.0 e mídias tradicionais. Isso aqui é complemento da estratégia de Comunicação e Marketing.
4) O viral é uma tática que pode se tornar muito boa e cair no gosto de todos. Caso contrário, terá sido mais um vídeo no Youtube.
5) A grande vantagem da Web 2.0 é que tudo nela é mensurável.
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Um comentário:
Existem 3 pontos que saltam aos olhos:
1) É impressionante como as pessoas não lêem. Tudo o que ele falou está amplamente disponível na internet e mesmo na grande imprensa americana, sem falar em inúmeros livros.
2) Não consigo entender porque alguma empresa contrata a agência dele. Qual a proposta de valor do serviço dele para a empresa?
3) Mais importante: a web é apenas mais uma faceta do ferramental do marketing e das estratégias de comunicação e serviço da empresa. Se uma pessoa que cuida só de uma parte do mix de marketing quer definir o marketing todo da empresa, ainda mais nunca tendo trabalho como marketeiro, a coisa está mesmo feia.
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