sábado, 30 de maio de 2009

O culto do amador, o Congresso Brasileiro de Comunicação Corporativa e o fim da Gazeta Mercantil. Oswald de Souza pode explicar?


Enquanto as mídias sociais crescem absurdamente e uns dizem que o jornalismo tradicional vai acabar, outros, mais otimistas, como eu mesma twittei pelo 12oMegaBrasil, acreditam que sempre haverá co-habitação entre ambos - que o bom jornalismo não acabará. Que o diga O culto do amador, do autor britânico Andrew Keen, que ontem participou de um talk-show com o historiador e escritor de mídias sociais, Juliano Spyer. Este último, conheci pessoalmente num evento no ano passado, e recomendo seguir e ler.

Findo o Congresso, no qual fiquei quase enclausurada numa sala sem janelas, descubro que a Gazeta Mercantil pode não sair nunca mais já a partir desta 2a. feira.

Os links dos títulos

Este post foi criado a partir do comentário deixado página do Knight Center of Journalism, onde está a matéria acima. ELa me chegou ao conhecimento pela jornalista e ex-colega de classe, Janaína Machado, da Plano B Consultoria, e me fez "cair do cavalo", especialmente porque estava tentando novamente ser otimista com o que se discutiu ao longo dos três dias do evento do qual participei como contratada dos organizadores para twittar, editar as matérias feitas pelos colegas para o Jornal da Comunicação Corporativa e cuidar da primeira iniciativa de blog corporativo da empresa. Parece até ironia!

Como fazer bom jornalismo sem dinheiro se não fomos adestrados para isso?


O empresário quer mais resultado por menos salário; tem gente entregando (fazendo o delivery) de bom material de graça! Se somos empresários, temos que pagar impostos caros a um Governo retoricamente democrático, dono de todos os setores da economia e pagar o preço de papel e maquinário caros. Mas como fazê-lo, se a publicidade está migrando para o Mkt promocional, se o leitor não é mais fiel - apesar de nunca ter lido tanto o conteúdo dos jornais via internet, segundo palavras quase textuais do diretor de conteúdo do Grupo Estado, Ricardo Gandour, em mais de três eventos que cobri pessoalmente? E a discussão está apenas começando...

Gazeta Titanic Mercantil

Enquanto isso, assistimos ao corte em pedaços para um afundamento total da Gazeta Mercantil, como a um navio, para seu sepultamento final - como já vi acontecer na vida real - e como "boi de piranha da imprensa nacional" - sinal dos tempos no Brasil, porque lá fora já se foram outros, nos Estados Unidos e em outros países. É um sinal, sem dúvida, de que as coisas não estão bem.

Meu pesar é, sobretudo, pelos colegas - competentes, alguns veteranos, outros jovens e cheios de entusiasmo com a carreira, que estarão às voltas com a busca de um lugar ao sol que pode não chegar porque o mercado não está para peixe. Eu vivi isso com as várias reclamações de pessoas - algumas que sequer conhecia - de 40, 35, 22 anos - ao trocarem cartões comigo durante o 12o. Congresso Brasileiro de Comunicação Corporativa, da Mega Brasil, nestes últimos três dias. É muito desalentador.

Já assistimos a isso quando a tecnologia invadiu as Redações, no início dos anos 80 (quando eu começava minha carreira), com o fim dos revisores e outras carreiras que faziam parte da história do Jornalismo. Estamos agora diante do profissional multitarefa, multilingue (português, inglês, espanhol, mandarim, alemão e o que mais hão de nos solicitar, ainda na fase do estágio, conforme se vê em anúncios que colegas publicam e repassam para indicações). O atual jornalista também tem que ser fotógrafo-motorista-repórter-redator-revisor-editor-de-seu-próprio-texto-em-várias-línguas-e-imagens-diagramadas-em-softwares-prontos-para-edição. E tudo isso concorrendo com gente que, por mais que escreva sem revisão ou concordância - porque há trigo e joio no meio dos blogs - de fato sabe fazer dinheiro com suas iniciativas individuais. Os blogueiros estão se dando melhor que a gente - não "adestrado" para isso, que depende do ser-empresário para poder escrever e... sobreviver.

Porque eu escrevo tudo isso

Eu não estou e nunca fui da Gazeta, na qual tantos clientes emplaquei em matérias de capa, em qual tantos colegas fiz, alguns até "amigos para sempre!". Eu ainda consigo freelas aqui e acolá. Mas quantos jornalistas serão afogados junto com os seus restos? Colegas, que têm em seus currículos muito mais que eu: MBAs, mestrado, pós-graduação, doutorado, mais de uma língua e não terão mais oportunidades por razões semelhantes às minhas...

Matematicamente, será que Oswald de Souza pode nos ajudar a entender o que está acontecendo agora? O que é este fim da Gazeta Mercantil, que pode representar o começo de um pesadelo ainda mais tenebroso? Eu gostaria de saber.

3 comentários:

Jose Celis Trindade disse...

Boa Tarde!

Lamento, mas lamento muito mesmo admitir que você está completamente CERTÍSSIMA em suas colocações. Eu que milito na área da Comunicação Social desde 1967 – quando pela primeira vez fiz um curso patrocinado pelo IDORT dado pelo legendário Prof. Cândido de Souza Theobaldo, o maior profissional de Relações Publicas que convivi – vejo aterrorizado que nós profissionais formadores de opinião pública vivemos numa transformação violenta e agressiva da nossa profissão; onde todos os valores que aprendemos estão sendo jogados no ralo da incompetência de um sistema social, educacional desumano, onde só os ignorantes ratos da sociedade conseguem brilhar na passarela deste pobre país.

É profundamente triste observarmos este quadro desalentador principalmente para todos os profissionais jovens esperançosos; para todos aqueles que curvaram o limite dos trinta anos de idade e sobretudo, para nós que estamos abaixo na ladeira do tempo tentando pegar um ramo de sustentação para conseguir uma esmola da aposentadoria; isto é se é possível ainda pensar neste privilégio grotesco que o INSS nos oferece.

Endosso sua belas palavras permitindo-me acrescentar mais alguma coisa: para sobreviver no dia a dia é necessário muita coragem e altivez; por isso hoje, atuo como contato publicitário para poder conseguir algumas dezenas de reais por necessidade pessoal e manter a minha dignidade de não ser taxado de mal pagador de minhas contas pessoais. Sinto-me também sendo agredido, violentado em meus sonhos de relações públicas e jornalista. Até quando poderei suportar esta humilhante situação? Até quando vamos ter que nos sujeitar diante deste quadro sombrio? Será que estaremos vivos para ver mudanças de melhoria da nossa profissão? Estas são as perguntas que faço aos demais colegas, porque do jeito que anda a carruagem, ninguém respeitando nossa profissão, dificilmente sairemos deste lamaçal profissional, cultural e econômico. Parabéns Vany!

Beijos

José Trindade Celis
Um profissional de comunicação social ainda com muito orgulho e dignidade.

Guido Laubé disse...

Estava lendo em seu Mosaico e depois abri trecho do "O culto do amador". Fiquei abismado e ao mesmo tempo tive confirmadas muitas das minhas idéias a respeito deste admirável mundo 2.0! Sempre tive minhas reservas perante os tais intelectuais que inundam os meios de divulgação da Internet e não conseguia acreditar nos seus escritos. Parece que o futuro será realmente uma incógnita inacreditável...

chrismatos disse...

Acho que o "Culto do Amador" é uma leitura indispensável para quem pretende fazer uma análise sem a visão deslumbrada sobre as mídias sociais.Embora reconheça a importância das mídias sociais, vejo que a nossa profissão de jornalista está muito prostituída."Jornalistas-cidadãos" invadiram a blogosfera...salve-se quem puder!