Um e-mail sobre o uso de amianto nos absorventes higiênicos, um documentário sobre Chernobyl mais de 20 anos depois da tragédia, a tragédia do Haiti com meu engajamento com a causa e um vídeo que, além de um resumo sobre a economia do século 20, faz um exercício de futurologia sobre os vários cenários econômicos que ainda poderemos escolher mediante nossas ações daqui em diante.
O que estas quatro coisas poderiam ter em comum? A princípio nada, mas elas têm sim – e muito. E como foi bom encontrar este vídeo e ouvir uma espécie de eco não somente ao que postei como resposta-desabafo a quem me enviou o e-mail, como à minha atitude de arregaçar as mangas e sair buscando informação, tendo nas mídias sociais uma forma de divulgar como as pessoas poderiam ajudar os sitiados do Haiti – assim como eu pude fazê-lo.
O câncer nosso de cada dia
Tudo começou via o tradicional e-mail. A informação veio numa apresentação em slide show de Power Point, como muitas das que recebíamos ainda na era da web 1.0. Era sobre a incidência de câncer de colo uterino pelo uso de absorventes internos em função da indústria farmacêutica utilizar amianto nos produtos para estancar o sangramento. Daí, integrar o assunto sobre o câncer de Chernobyl foi apenas um complemento para minha resposta-desabafo – cujos principais trechos eu copio a seguir. O que mais me choca a respeito de Chernobyl é o silêncio sobre o tema. Mesmo na recente Conferência das Nações Unidas, realizada em Copenhague, lembro que se falou de aquecimento global, de energias renováveis, mas nada sobre isso. Gostaria de saber o motivo.
Em meio a tudo isso, aconteceu o terremoto no Haiti – o país mais pobre de toda a América Latina. As cenas mostradas nas Tevês, com a falta de água, além de toda a tragédia em si, foram desoladoras. Eu não me contive, simplesmente.
O Haiti não é aqui – lá, é bem pior
Desde ontem, quando as várias mídias começaram a divulgar as primeiras imagens e notícias sobre o Haiti, pensei: “Cada um pode tomar uma atitude”. Usar o Twibbon, claro, foi apenas simbólico.
Depois de dar um #RT num gringo que mencionou as várias instituições que poderiam receber doações, encontrei minha forma de agir. Como ajudo a ONG Médicos sem Fronteiras, adquirindo, desde o ano passado, o seu calendário, fiz minhas apurações – mínimas – para prestar informação e minha solidariedade, ainda que a doação fosse pequena. Twittei, retwittei, facebookeei, usei a mesma mensagem no Linked in, depois mandei e-mail (sim, por que não?).
Por fim, o vídeo sobre o que nos reserva o século XXI – que tomo a liberdade de reproduzir também. Oriundo de um tweet de hoje, do pessoal do site http://www.litmanlive.co.uk/2010/01/are-you-ready-for-the-21st-century-video/, me permitiu fazer a costura com o jornalismo e as mídias sociais e assim, adaptá-lo para este espaço aqui.
Are You Ready for the 21st Century ? from Michel Cartier on Vimeo.
DeVANYeios
A seguir, reproduzo trechos da minha resposta-desabafo quanto à questão do uso do amianto em absorventes higiênicos, que vale para outras coisas também.
nojo, revolta, absurdo, anarquia, revolução = mídias sociais!
Não é à toa que as pessoas, lá pelas tantas, resolveram dar seu grito de guerra com o uso do e-mail, twitter, Gtalk, YouTube e #whatever (porque a cada dia surge uma novidade mais incrementada!).
Cada um do seu jeito tenta falar alguma coisa. Há quem queira nos dizer que o mundo endoidou, que agora tudo é #teoriadaconspiração... Mas será que, na verdade, não será o desmascarar da sociedade hipócrita que criamos? Ou que criaram para nós? Ou - pior - que ajudamos a criar com nosso silêncio, nossa falta de participação política - com a desculpa de que "os políticos são corruptos, então, nem me meto, nem me importo com a questão..."?
Eu não tenho dúvida de que somos responsáveis - de alguma forma, por isso. Se a sociedade se tornou consumista, é porque damos trela a isso.
Se existe a 25 de março é porque compramos nela e alimentamos toda a cadeia que dela engorda - não importam os motivos ou as desculpas por detrás disso.
A geração que nasceu em 40 e viveu seu apogeu em 60 rasgou sutiãs em praça pública e pegou em armas. Muitos morreram - em vão? Sim, e não.
As gerações que vieram depois acabaram com o comunismo, ratificaram o capitalismo e hoje são vítimas dele - estamos - nós, baby boomers, com 40/50 anos na cara, sem empregos, quase todos empreendedores de nós mesmos, tendo que nos reinventar todos os dias, e consumindo tudo isso que nos impõe as multinacionais que ontem eram nossos empregos...
Quem não trabalhou ou tem algum parente que tenha trabalhado na Johnson & Johnson ou na Danone? Você sabe o que é o Dan Regularis? A exemplo desse e-mail, recebi outro que diz, “numa linguagem curta e grossa” se tratar de “um conjuntinho de cocô ativo que, misturado ao cocô parado no intestino, faz a ‘turma que acaba de chegar’ empurrar, literalmente, os preguiçosos para túnel à frente até chegar ao destino”.
Claro que tem brincadeira e mentira nas mídias sociais, tem quem apenas esteja lá para ser o #bobodacorte (eu mesma brinco de vez em quando, porque #ninguémédeferro!). Mas há hora para tudo!
A esta altura, já nem sei mais se é a arte que imita a vida ou se é a vida que imita a arte. Mas o filme "O dia depois de amanhã" já é hoje, já que na Noruega, nesta 2ª. Feira, fez – 11º C e, salvo as besteiras exageradas, quem não garante que “2012” já não esteja mesmo acontecendo bem debaixo de nossos narizes?
As vilas no entorno de Chernobyl passado tanto tempo depois do desastre estão abandonadas. Quase todos os jovens que nasceram à época hoje estão simplesmente tirando a tireóide com diagnóstico de câncer, sem sequer saber para não pirar! É proibido bebês nas redondezas e os índices de radiação são imensos por lá até hoje.
Ainda hoje nascem bebês defeituosos a um nível que não existe cura ou possibilidade de transplante ou jeito de salvá-los. Eles são simplesmente deixados numa espécie de creche... para viverem até onde for possível a eles... verdadeiras “aberrações”. Então, minha vez de passar um vídeo - e isso não é novo e é VERDADE:
Bottom-line
Se quisermos deixar um legado menos tortuoso para nossos filhos:
Precisamos ser mais conscientes e agir – e não para posar de bonitinho - para fazer nossa parte no mundo melhor que queremos para nós e para nossos filhos e netos.
Precisamos diminuir o uso de sacos plásticos e levar nossas próprias sacolas, caixas isopores o que for para ajudar a diminuir o índice de poluição que entope os bueiros (também!) e cobrar isso também de nossos fornecedores e parceiros.
Ao ir a um médico, precisamos checar suas credenciais para evitar morrer em sua mesa como aquela moça que fez hidrolipo.
Devemos – jornalistas, blogueiros ou não - checar sobre o que consumimos em remédios, produtos de limpeza e higiene etc., e buscar cobrar de nossos fornecedores – e não apenas comunicando, mas deixando de consumir porcarias, boicotando, mesmo – qualidade de insumos, modo de fabricação, produto final e preço.
Somos parte de uma cadeia na qual os nossos clientes nos testam e nos exige qualidade e postura. Devemos também exigir de nossos parceiros e fornecedores a mesma coisa. Eles realizam ações de sustentabilidade? Quais? Utilizam tecnologia verde? Como?
Recicle, reutilize, reforme, refaça seus conceitos. Pela primeira vez, na história da humanidade, o poder de voz está nas nossas mãos. Mas não devemos empregá-lo de forma errada. Nem só criticando, nem calados além da conta, muito menos numa postura de necessidade paternalista – como é bem afeito ao povo brasileiro, que adora um discurso populista. Se assim o fizermos, acabaremos perdendo o trem da História; a fila vai ter andado e o Brasil, que finalmente entrou na Agenda Mundial, pode perder o rumo e ficar para trás. Com ou sem você!
3 comentários:
Eu estou abismado. O vídeo é fantástico, o relacionamento que você fez entre fatos aparentemente inconectáveis foi de absurda competência e o tapa na cara é doído. Todos, por mais ecológicos, pensantes e críticos que sejamos, acabamos errando e relevando algumas coisas importantíssimas, adiando atitudes que são inadiáveis. Eu me revolto com muitas coisas também, mas esqueço, por vezes, de me revoltar comigo. E sou um devastador, sou um poluidor, sou um consumidor. É aquela velha história, antes de criticar o outro, temos que ter absoluta certeza de que a sua parte está feita, ou quebramos a cara.
Parabéns pelo post!
Beijos
Como disse o Vithor, o seu post é um "tapa na cara". Tenho vontade de espalhar este texto pela rede e criar um grande movimento da sociedade. Acho que as redes sociais podem trazer grandes transformações no mundo, gerando mais consciência e engajamento da sociedade. Obrigado pelo post. Você tocou na minha consciência. Beijos. Mauro Segura.
www.aquintaonda.blogspot.com
Mauro,
O que lhe dizer senão um muito obrigada? Um elogio destes, vindo de vc, meu guru da Comunicação Empresarial, é muito mais que #tudodebom! É realmente indescritível!
Se ontem, eu postei um "ganhei o dia", hoje, ao ler este seu post, eu digo - ganhei o mês - porque sensibilizei alguém que respeito muito profissionalmente, que acompanho o trabalho e entrevistas etc..., e vc sabe disso...
Sinta-se à vontade para espalhá-lo. Afinal, essa mexida, a gente pode dar no pessoal! O que são as novas mídias senão um grande megafone em "praça pública", pelo menos... entre as tribos que mais nos achegamos? Uma honra para mim.
Se algum dos vários tweets que dei dois dias atrás tiver ajudado a Rosângela (lá do MSF = Médicos sem Fronteiras, no Rio) a angariar mais fundos além dos meus parcos reaizinhos, para a causa - eu já terei lavado a alma...
;D, Vany
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