Jornalista aprende na prática. Então, foi lendo (e não somente em Português, mas principalmente em Inglês), baixando arquivos, vídeos, livros inteiros, entrevistas etc., ouvindo, vendo, trocando informações com pessoas mais experientes, entrevistando os “geeks” (que passaram a entender e falar deste mundo, defendendo suas ideias e dando conselhos a respeito), jornalistas - brasileiros e do exterior -, escritores, pessoal da área de pesquisa, “evangelistas” (outra categoria destes novos tempos de pessoas que, como diz o nome, literalmente visam a catequizar sobre determinada marca) e, principalmente, escrevendo, que venho me relacionando com este mundo das chamadas mídias sociais ou socialcast, em uma contraposição ao broadcast.
Grande parte do que vim aprendendo foi dividida entre podcasts (no meu caso, dicas de como usar ferramentas – e apenas para a Rádio Mega Brasil), textos aqui no blog ou mesmo em vídeos – que não gravo, mas desço de fontes que considero fidedignas para meus estudos – e, agora, estão compartilhados no You Tube. Haverá outra, em forma de livro – este todo meu – ainda em fase final de construção.
De qualquer forma, como desafio e tentando dar uma palha do que acredito ter aprendido no ano que chamei de sabático, busquei sintetizar, especialmente para os jornalistas, um pouco deste fantástico mundo. Ele envolve diferentes tipos de ambientes, plataformas, aplicativos, linguagens, gírias e “tribos”, interagindo e trocando informações e experiências como nunca antes. Depois de 11 meses imersa ou flutuando nesta imensa nuvem, ao qual, inclusive, me linkei de forma inexorável, quase como um vício, eu destacaria 10 verdades que refletem os impactos sem volta no jornalismo.
Pluralidade
Antes, porém de entrar nelas, queria ressaltar um dos fatores mais espetaculares desse mundo, aliás, uma das exigências intrínsecas à participação dele: sua pluralidade. Ela está na forma de se relacionar com e por meio das mídias sociais.
Além da diversidade de formas de relacionamento, há um caráter de simultaneidade muito louco que cria o que o jornalista Manoel Fernandes (em posts anteriores - aqui mesmo - já chamou de "atenção parcial continuada" e que eu chamaria de "meia-atenção" ou síndrome da leitura pela metade". Isso porque trata-se de uma leitura na diagonal, que, não raro, induz ao erro. (Esta parte do texto não entrou em nenhum dos demais até agora - ver nota ao final deste post) Mas, vamos lá, aos impactos que as mídias já causaram ao Jornalismo em todo o Mundo. Claro que aqui é um resumo bem básico - ou você acha que eu entregaria tudo num só post com um livro no forno?
As mídias sociais são inexoráveis. Não tem aquela de “não adianta bater, eu não deixo você entrar”, como refrão do jingle do comercial de Casas Pernambucanas. Por isso, os jornais impressos migraram seu conteúdo para a web e diariamente – twittam, se não por meio de seus portais, via seus colunistas, as manchetes e principais notícias para manter os leitores linkados aos seus conteúdos. O diretor editorial do Grupo Estado, Ricardo Gandour não se cansa de repetir a cada evento para o qual é convidado a palestrar: “Nosso conteúdo nunca foi tão lido, mas, ao mesmo tempo, nunca se pagou tão pouco pelo nosso conteúdo”.
Sem qualquer conotação política, a frase do diretor patronal é o sintoma mais cruel das mídias sociais sobre nossa atividade. Por que ao ver o jornalista Daniel Piza perguntar todos os dias, na Tevê – “qual o valor do conhecimento”, ele está, na verdade, colocando sua cara à tapa também, para questionar, subliminarmente, “quanto vale o meu trabalho” – e o de tantos colegas – que detêm conhecimento, discernimento e todos os outros requisitos para diariamente imprimir a qualidade de conteúdo que o Estadão (só para citar um veículo de comunicação impresso) traz diariamente aos seus leitores? E, como ele, os demais profissionais que sustentam a cadeia de um modelo de negócios que, até o surgimento das mídias sociais, era o que garantia grande parte dos empregos que já não existem mais...
Porque é fato 1: O jornalismo impresso perdeu e ainda não achou um novo modelo de negócio que conviva de forma amigável com as novas mídias. E mais – se achar, cada jornal encontrará o seu.
A pluralidade das mídias sociais acabou de vez com modelos semelhantes para os mesmos mercados. Somente no jornalismo impresso, por exemplo, as seguintes propostas ainda estão em discussão:
a. Há quem aposte no fim do papel e quem continue achando que haverá os que pagarão pelo papel por hábito.
b. Há quem espera que se pague pelo conteúdo completo de matérias cujo material à disposição na web seja apenas um chamariz.
c. Há outras opções...
Fato 2: Hoje, do Oiapoque ao Chuí, de Nova Iorque a Londres, passando por outras cidades de países mais longínquos, todas as Redações trabalham com menos da metade dos profissionais que costumavam contratar há cerca de 10 anos.
As habilidades dos colegas também devem ser outras e, mesmo aqui no Brasil, uma ampla discussão envolvendo a mudança da grade do currículo foi realizada. Ser multiprocessado é qualidade sine qua non para qualquer jornalista trabalhar. Em síntese, ele deve:
a. Saber dirigir (veículo de verdade, não necessariamente de comunicação!),
b. Escrever o melhor Português – porque erro é fator de unfollow e, num processo de seleção, de fator de escolha.
c. Fotografar - se não também filmar.
d. Fazer o texto para matérias impressas, além de blogs, podcasts etc.
Além disso, as Redações passaram a contar com a figura do repórter-cidadão – enviando material via You Tube, Twitter e outras plataformas – graças à crescente mobilidade e convergência digitais.
E não devemos nos esquecer dos blogueiros. Eles têm representado uma fatia cada vez mais importante e representativa no mundo das mídias sociais – e sem essa de achar que são concorrentes. Convidados para eventos criados especialmente para eles reverberam notícias e opiniões sobre as mais novas sensações tecnológicas, entre outros importantes fatos.
Furos jornalísticos tão importantes no passado não superam a relevância da credibilidade de conteúdo nas mídias sociais. Quantidade de seguidores nem sempre significa qualidade de conteúdo. E novos medidores de resultados surgem a cada dia para provar aos investidores em mídias sociais que isso é verdade. Nas mídias sociais, faltando credibilidade, sobrarão posts negativos, tweets tipo “mimimis” além de outros resultados que, para melhorar a marca, só com muito trabalho de PR (e aí, entramos na seara da Comunicação Empresarial, que merece, por si só um artigo!).
Não confunda nuvem com fumaça. As mídias sociais são mais um mundo onde se pode ser bem sucedido, mas não é para todos, não. O conselho de que “o que é bom para uns pode não ser para muitos outros”, vale para empreendedores e jornalistas. Como já abordei em vários podcasts, sem saber objetivo, público, mensagem etc., melhor pensar duas vezes antes de se aventurar com blogs corporativos, perfis em twitter e facebook e campanhas visando viralização. Ainda que um dos bordões dos defensores das novas mídias seja o de que “se você errar, dá para consertar rapidamente e de forma barata”. Vai correr o risco?
O material deste post foi criado em primeira mão para o blog Mídias Sociais e depois, resumido para o podcast da rádio Mega Brasil online.
Nenhum comentário:
Postar um comentário